pesquisas integradas


Projeto integrado de pesquisa Convenções de gênero, sexualidade e violência

Juntamente com a implantação da área de pesquisa foi proposto um projeto integrado que se subdivide em quatro subprojetos. A violência, como fio condutor, será explorada de maneiras diversas nos subprojetos, criando uma interlocução entre eles, de forma a pensar as convenções de gênero e sexualidade, em sua relação com a violência, a partir de diferentes campos empíricos.
A perspectiva teórica em torno da qual se articula este projeto é tributária da crítica proposta pelos “estudos de gênero” em relação às abordagens da “antropologia da mulher” dos anos 1970, ao questionar o caráter universal, e homogêneo e a semelhança transcultural atribuídos à categoria “a mulher” e propor o uso de “gênero” como categoria analítica, de modo a referir-se à forma de conhecimento cultural das diferenças sexuais - que se volta não para homens e mulheres, mas para os significados e valores histórica e culturalmente associados a masculino e feminino. Todavia, incorpora os debates pós-estruturalistas no que diz respeito ao questionamento de essencializações e dualismos, especialmente as críticas referentes às idéias de que gênero toma como base o dimorfismo sexual e de que haja uma relação de continuidade e coerência entre sexo, gênero e desejo, que situe homem e mulher, masculinidade e femininilidade como complementares e implique a heterossexualização do desejo. Parte ainda da necessidade, apontada nesse campo de estudos, de tomar gênero a partir do entrecruzamento com outros eixos a partir dos quais se estruturam hierarquias sociais, tais como classe e “raça”.
No que diz respeito à abordagem do tema sexualidade, esta pesquisa tem por referência a obra de Michel Foucault, no sentido da desnaturalização e da valorização da historicidade desse termo, como dispositivo criado nas sociedades ocidentais modernas a partir do séc. XVIII. Além disso, dialoga com a perspectiva construcionista no interior dos estudos sobre sexualidade, que considera que as representações e práticas associadas à sexualidade, entre elas as referentes às variantes não-heterossexuais, são produzidas sócio-historicamente, no interior de sociedades concretas, e estão intimamente relacionadas com outros aspectos dessas sociedades. No entanto, procura refinar essa abordagem, partindo das perspectivas que aprofundam a crítica ao tratamento dicotomizado, que engendra falsas oposições entre natureza/cultura e, conseqüentemente, corpo/mente.

Subprojeto 1 – coordenadora: Dra. Regina Facchini
Retomar os estudos de vitimização que já vem sendo realizados com LGBT por ocasião das paradas, procurando qualificar os dados que vem sendo produzidos pela análise: 1) de convenções acerca de violência; 2) das motivações para relatar a violência vivida e buscar apoio; 3) da dinâmica da violência com base na sexualidade ou expressão de gênero. A abordagem metodológica é qualitativa, tendo como técnica entrevistas em profundidade. O conjunto de entrevistados será composto por 30 pessoas maiores de 18 anos, que tiveram ao menos uma situação de discriminação ou violência ao longo da vida e sejam participantes de eventos do Orgulho LGBT em São Paulo. A composição desse conjunto de entrevistas buscará a maior diversidade possível com relação a identidades sexuais e/ou de gênero, classe, geração e cor/raça, de modo a contar com quantidades equilibradas de entrevistados com até 30 anos e com mais de 30 anos, brancos e não-brancos e de estratos médios e de estratos populares. As entrevistas serão transcritas e organizadas tematicamente. O recrutamento de entrevistados será feito com o apoio de estudantes de pós-graduação que já participaram anteriormente de pesquisas de vitimização em Paradas. Cada entrevistado assinará um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido onde constarão os objetivos e garantias éticas com relação à confidencialidade da identidade dos colaboradores. As entrevistas passarão por uma análise vertical (cujo foco está na trajetória, experiências e sentidos relacionados ao entrevistado) e horizontal (cujo foco está na comparação entre entrevistas, percorrendo as regularidades nos diferentes temas e buscando compreender a possível relação entre diferentes convenções e dados marcadores sociais de diferença).

Subprojeto 2 – coordenadora: Dra. Iara Beleli
Perceber como convenções que sustentam a violência com base na sexualidade ou na performance de gênero são produzidas nas novelas exibidas pela Rede Globo de Televisão, refletindo também como se dá a intertextualidade  com a publicidade. A pesquisa inicia com um levantamento de novelas e propagandas que apresentam personagens que podem ser identificados como LGBT. No segundo momento da pesquisa serão realizadas entrevistas com produtores de publicidade (área de criação) e roteiristas de novelas, dado que os agentes de mídia recorrentemente se utilizam da idéia de “espelho” pensando retratar a realidade tal como ela se apresenta, nesse sentido atuam muito mais como mediadores do que como produtores de imagens. Na terceira parte está previsto um focus group com o público-alvo para pensar como a violência simbólica é apreendida ou contestada a partir das imagens produzidas pela mídia de massa. Os focus serão realizados em São Paulo.

Subprojeto 3 – coordenadora: Dra. Karla Bessa
Através de um levantamento detalhado de filmes  (com prioridade para os filmes nacionais)  exibidos nas salas do circuito comercial de São Paulo esta pesquisa  buscará mapear o jogo entre imagens e imaginários que cerca a produção de personagens e ou enredos fílmicos que remetam à sexualidade, vivências eróticas e modos de vida relativos ou entendidos como pertencentes à comunidade LGBT. O objetivo principal é perceber como a violência simbólica e/ ou física fazem parte das tramas e promovem a difusão de sentidos e condutas tanto dos próprios sujeitos das agressões e discriminações, quanto dos agentes de tais práticas.  Como vivemos numa dinâmica multicultural e com uma velocidade incrível de acesso a bens e (in)formações provindas das várias partes do mundo, esta dinâmica estará visível na cinematografia. Muito mais do que um retrato ou mera representação desta realidade sensível e simbólica, o cinema atua como parte constitutiva dos nossos códigos e convenções, bem como media nossa relação com a realidade que nos cerca. Embora o contato com filmes faça parte do cotidiano, sua eficácia enquanto produção simbólica requer o elemento fundamental da repetição, ou seja, cria (ir)regularidades que moldam nosso olhar do ponto de vista estético e ético. Por isso, esta pesquisa terá inicialmente o recorte de no mínimo dez anos, ou seja, fará o levantamento  quantitativo e a análise qualitativa (cuja seleção será detalhada no relatório) dos filmes exibidos em São Paulo no período de 1998 a 2008.


Subprojeto 4 – coordenadora: Dra. Larissa Pelúcio
Realizar mapeamento sobre a realidade das travestis jovens (18 a 25 anos), tomando como campo a cidade de Campinas, SP, de modo a conhecer suas percepções sobre gênero, corporalidade e sexualidade, além de suas demandas mais recorrentes.

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